sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

CARTA ABERTA SOBRE NOSSO PATRIMONIO HISTÓRICO

2012 - O ano nem bem tinha iniciado que logo começamos a ouvir falar em “azulejos” desaparecidos, painéis vandalizados. Não qualquer azulejo, mas aqueles que faziam parte de casas históricas de Belém. Uma dessas casas é aquela que hospeda o Bradesco no Largo do Redondo (Av. Nazaré com a rua Quintino Bocaiúva); outra, aquela, abandonada, situada na praça Coaracy Nunes, mais conhecida como praça Ferro de Engomar e de propriedade de um comerciante.

O que aconteceu com os azulejos da casa de Vitor Maria da Silva chamou mais atenção dos cidadãos, do que o desaparecimento dos azulejos da casa ocupada pelo Bradesco. A maior parte das pessoas descobriram, então, que existia uma praça em Belém conhecida como Ferro de Engomar onde existia um “tesouro” escondido.

Os azulejos da casa de Vitor Maria da Silva eram assinados pela firma A. Arnoux e Boulanger & Cie., e esta não foi a única casa em Belém a ter tais painéis. Na Dr. Morais canto com a Av. Nazaré, onde foi construído o edifício do INSS (aquele incendiado) tinham outros paineis, sempre de Boulanger e bem maiores do que estes. Cadê eles?

Depois desta premissa, não podemos deixar de constatar que a situação em que se encontra a preservação do patrimônio histórico arquitetônico do município de Belém é grave, ja ha muito tempo. Essa epidemia de vandalismo que assola nossa cidade foi facilitada aolongo dos anos pela indiferença, seja dos proprietários desses bens, que dos orgãos públicos competentes pela defesa do nosso patrimônio histórico. Imaginamos que o vândalo não dialoga com o patrimônio histórico, pois é uma coisa que não lhe pertence. Esse vandalismo, portanto, pode ter sua base em interesses de colecionadores. Ninguém entraria nessas casas para destruir esses azulejos, por “implicância” ou “antipatia”. Seu valor e sua beleza interessavam a alguém.

Feita essa suposição resta perguntar: o que fazer? Seja para reaver esses azulejos (!!!), seja para defender o que sobrou. Pressuposto fundamental para isso é reconhecer a importância da defesa, da restauração e da preservação de nosso patrimônio histórico e cultural. É evidente que a falta de políticas publicas que incentivem, inclusive, o conhecimento do que ainda temos, é o nó deste problema.

Para defender o que sobrou do nosso patrimônio histórico que está por ai caindo aos pedaços, precisamos conhecê-lo. Saber aonde estão situados; seus endereços; quem são seus proprietários; se estão na lista de tombamento e... porque essas práticas levam tanto tempo para chegarem ao fim.

Existe, por acaso, uma relação daquilo que consideramos “patrimônio histórico”?. Conhecemos aqueles que já foram tombados pelas três esferas de governo, mas e aqueles que estão na lista de espera? E aqueles que não estão e quando caírem ou forem depredados, vamos descobri-los????

Algumas manifestações foram feitas em Belém nestes últimos anos, pela salvaguarda de imóveis considerados históricos. Não sabemos em que deram, então pergunto:

- o que sobrou do Teatro São Cristóvão foi comprado por algum órgão público?

- Que sentido tem o tombamento parcial da Associação dos Chauffeurs pelo DEPH/FUMBEL?

- E o termo de acompanhamento de uso do Central Hotel, onde a FUMBEL e o IPHAN deveriam produzir relatórios frequentes, para evitar que espaços do edifício não tivessem função unicamente de depósito... Será que está acontecendo?

- Existe "tombamento de uso" para impedir adaptações de partes desse imóvel a um novo uso?

De outros bens, nem se fala mais. Participei da apresentação dos trabalhos do Palacete Faciola da Av. Nazaré. Fui até convidada a falar sobre a situação do nosso patrimônio. Aproveitei para dar uma volta com os presentes pela Cidade Velha, começando pelo Instituto Histórico e Geográfico e acabando no Palacete Pinho, então inacabado. Não deixei de falar de prédios abandonados como aqueles da Praça do Arsenal, da Dr, Assis e da Joaquim Távora. Quantos anos se passaram? Será que ainda existe algo de útil dentro do Faciola? A parte o Palacete Pinho, todos os outros imóveis continuam ali, como monumentos ao descaso.

Também participei na reinauguração da Catedral de Belém. Desta vez falei das obras do Landi, bem pouco cuidadas... Como é que, naquela ocasião, ninguém perguntou que fim levou a grade de ferro da Igreja da Sé, substituida por uma sem a menor graça, ou valor artístico, depois do restauro? Eu perguntei e ninguém soube responder.

Precisamos admitir que andamos por ai e, como dizia Otto Lara Rezendo: de tanto ver a gente banaliza o olhar - vê... não vendo.

Então, com isso quero dizer que não basta fazer manifestações raivosas quando acontece algo com nosso patrimônio histórico. Precisa continuar buscando informações, precisa insistir na luta pela preservação, precisa cobrar de quem não faz, precisa aplicar as sançoes, caso contrário estaremos, todos, contribuindo para que vândalos, e não só, depredem a nossa memória histórica.

Dulce Rosa de Bacelar Rocque

Um comentário:

cacá disse...

Prezada Dulce nao lhe conheço pessoalmente, mas concordo em gênero, nùmero e grau com o q vc falou, temos urgentemente, que socorrer nosso patrimônio histórico e penso que para isso deveríamos cobrar mais atitude não só da iniciativa pública, como tbm da privada, só exemplificando, este empresário que édono da casa do "ferro de engomar" deveria ser obrigado a restaurar aquele patrimonio a expensas próprias, caso nao o fizesse deveria perdê-lo... E por aí em diante, grande abraco e parabeéns pela carta aberta.