quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Boas Festas

Amigos.

Me permitam, antes de desejar Boas Festas, fazer algumas considerações.

Todos nós, brasileiros, por um motivo ou por outro, transgredimos. Cada dia mais esse comportamento se fortalece entre nós. “È o efeito da impunidade sobre a conduta dos cidadãos”.

Estudiosos não se cansam de repetir que “a corrupção e a sensação de impunidade tem contaminado o próprio atuar da sociedade civil organizada” fazendo com que “as pessoas condenem os maus políticos mas ajam, no dia-a-dia, menosprezando valores como a ética e a honestidade.”

Antropólogos dizem que existe “a idéia culturalmente aceita, embora em revisão, de que certas pessoas tudo podem. De que existe mesmo gente isenta de cumprir com a lei...”.

Para fortalecer essas opiniões temos um exemplo concreto: a Serenata do Carmo. Em todas as três edições de tal evento, foram ignoradas várias leis. Pedido de providências foram feitos a vários órgãos públicos competentes sobre tais fatos, sem algum resultado concreto.

Essa impunidade em que resultou? Essa permissividade a que levou? O mau exemplo dado, principalmente com a musica alta até de madrugada (ignorando os cidadãos que moram nas redondezas) levou os bares daquela área (da Siqueira Mendes até o Beco do Carmo) a se sentirem com o mesmo direito. Hoje a musica alta até de manhã, impede a missa na Igreja do Carmo, depois de ter impedido o sono dos moradores da praça e do Beco do Carmo.... e nenhum orgão público fez nada mesmo se solicitados.

Tem razão quem diz que o grande empecilho nesta nossa democracia é “a própria estrutura da nossa sociedade, onde ainda tem muito peso o 'jeitinho' e a 'malandragem', ou o fato "de determinadas pessoas terem, na prática, mais direitos que as demais.”
A lei, é um brinquedo de papel e não vale para todos!!!!!!

Vocês me desculpem se me admiro de comportamento tão cinico. Não consigo evitar de ver o que não vai bem em Belém. De um lado orgãos públicos que não fazem respeitar as leis de própria competência e de outro, a total ignorância do nosso povo relativamente a seus direitos. Para onde correr quando quem deve dar o exemplo se comporta demagogicamente dançando com o povão em praça pública?

Não consigo colocar oculos coloridos para ver "tudo azul". Toco com as mãos, diaridamente a total falta de conhecimento do valor da "cidadania". Aqui não somos cidadãos somos "massa, vil e ignara". E permitimos que nos usem assim. Vemos os absurdos e o que fazemos? Participamos, calamos...Isso se chama comodismo, preguiça, ignorância, cpmvemiência ou...conivência?

Um ano atras estavamos indignados pelo assassinato do Dr. Salvador. Estes dias, outros militares e delinquentes foram assassinados e parece que nem são gente. Foram juntar-se aos milhares que morreram este ano sem que ninguem tenha movido um dedo que seja para mudar essa realidade. So vimos publicidade enganosa.

Um ano se passou daquele fato e não vemos ninguem se indignar mais ou utilizar este periodo para denunciar que nada mudou, aliás, piorou. Naquele fim de ano desejamos a todos que este ano fosse melhor, porém, vimos que não foi.... e ninguém faz ao menos um balanço que seja. Estão todos ocupados a fazer compras pro Natal, talvez.

Esquecemos com facilidade. Transgredimos tranquilamente e ainda nos admiramos se alguem insiste em reclamar. A nossa superficialidade é inaudita o que leva a uma total incoerência.

Certo que uma morte é mais importante do que musica alta, mas em ambos os casos, que providencias foram tomadas? Nenhuma. Não são resolvidos problemas graves (saude, educação, segurança...) nem problemas mais simples.

Se não nos conscientizarmos sobre o valor do "cidadão', vamos continuar a dar murro em ponta de faca, alíás, "vou" continuar a fazer a D.Quixote...lutando contra todos esses moinhos de vento sem obter algum resultado.

Começo a pensar que o Brasil está bem assim pra os brasileiros: a errada sou eu.

Depois de toda esta premissa me resta somente um desejo: que no Natal do ano que vem estejamos vivos para contar menos mortos.

Boas Festas a todos

Em amizade

Dulce Rosa de Bacelar Rocque
Presidente CiVViva

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

OS "NOSSOS" ESCRITORES

A nossa oficina Escola de Escritores deu sorte para alguns de seus alunos.
Este ano vimos o José Maria Costa, além de tornar-se presidente-fundador da Academia de Letras de Castanhal, lançar mais um livro: Umas Histórias de José Outras de Maria.
Diego Sábado, com seu livro "6 escritos sobre o 'Eu' e uns poucos poemas", deu autógrafos na nossa recente Feira do Livro.
Na semana passada, Walter Rodrigues lançou seu primeiro romance “Correndo Atrás”.
Sobre esse novo lançamento segue um resumo do que Oswaldo Coimbra, o jornalista ( pós-doutor em Jornalismo pela ECA/USP) que dirigiu a nossa oficina, escreveu:

"O desafio de falar da aldeia e ser universal

O uso da mesma língua em regiões de identidades culturais até contrastantes, como ocorre no Brasil, é uma espécie de milagre nacional, levando em conta as oportunidades que estas regiões tiveram, no passado, de se anexarem a outros países cujas populações falavam espanhol, francês, holandês etc. Um milagre que não impede a existência de diversidades lingüísticas regionais relacionadas a vocabulários e às pronuncias das palavras, por exemplo.
Nas esferas das diferentes realidades sócio-culturais brasileiras surgiram artistas, como Graciliano Ramos e Guimarães Rosa, capazes de falarem de suas aldeias e serem universais, ao mesmo tempo, como recomendava Leon Tolstoi.
É nestes artistas que os jovens escritores do país devem buscar estímulo para enfrentar um desafio na iniciação à vida literária: o de incorporarem a riqueza cultural única de sua região em seus textos, sem se tornarem escritores provincianos.
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A habilidade exigida na criação desta “ambientação” tem marcado os textos produzidos por Walter Rodrigues, um jovem paraense de 23 anos, a quem provavelmente nunca foi dada a oportunidade de ler o ensaio de Osman Lins. Walter nasceu em Belém do Pará, uma cidade fundada em 1616, e, integrada à Amazônia, região onde se desenvolve um complexo processo de formação cultural sustentado por influências indígenas, ribeirinhas, portuguesas, italianas, judaicas, sírio-libanesas etc.
Para o livro “Cidade Velha, Cidade Viva”, sobre o bairro mais antigo de Belém, a Cidade Velha, Walter escreveu a respeito de um sobrado. No seu texto, há um narrador que diz, ao se referir à fachada do prédio: “Dois andares decorados em relevo e com requinte, duas águias de ferro tentando fingir-se de ameaçadoras, no entanto, seus olhos inspiravam tristeza e melancolia. Seus bicos pendiam à frente de forma insolente e, neles, traziam duas luminárias antigas. Triste seres de ferro, guardiões de algo deteriorado e perdido no esplendor de um tempo passado”. Em outro texto de Walter, o romance “Correndo atrás”, publicado no Rio de Janeiro, pela Editora Multifoco, o narrador afirma, ao se referir à baía que cerca Belém – a de Guajará: “Respirar a lassidão dessas horas irreais, segurar a custo o desejo de minha própria extinção. Ainda não! Virar o primeiro copo de cerveja... Então, um céu mais límpido e azul sobre a baía inquieta. O vento forte e revelador de segredos incompreensíveis. A carne de Deus nua e crucificada a verter sangue e água...”
Walter terá de controlar a ansiedade juvenil de publicar logo para que tenha tempo de expurgar de seus textos pequenos deslizes numa revisão cuidadosa. Mas o talento que já demonstrou é suficiente para criar a esperança de surgimento na Amazônia de um outro artista à altura de Vicente Cecim, cuja obra, impregnada de sua região, impressiona os críticos mais sofisticados de Portugal. "

Nada mal para começar uma carreira.

(O texto integral pode ser lido em: www.guarulhosweb.com.br)